domingo, 21 de agosto de 2011

Elano diz que paga preço alto demais por pênalti perdido na Copa América


Em conversa com o Globoesporte.com, meia desabafa. Acredita ter sido 'esquecido' por penalidade errada, mas garante seguir lutando para voltar


Brasil x Paraguai. Quartas de final da Copa América 2011. La Plata, Argentina. Na decisão por pênaltis, um vexame brasileiro. Quatro cobranças, todas desperdiçadas. O meia Elano foi o primeiro a isolar a bola. Thiago Silva, André Santos e Fred também perderam. O santista, porém, sente como se ele tivesse sido tomado por bode expiatório. Depois da eliminação, o técnico Mano Menezes já fez duas convocações - para amistosos contra a Alemanha e Gabão. Elano não apareceu em nenhuma das listas.
O jogador do Peixe lembra que praticamente não jogou a Copa América. Ficou na reserva e participou pouco, mas estava em campo na hora da decisão por pênaltis contra o Paraguai. Pediu para bater, errou e o céu desabou sobre sua cabeça. Acredita que foi excluído do grupo de Mano Menezes (pelo menos momentaneamente) por causa da penalidade errada e não por seu desempenho durante os poucos minutos em que atuou. Acha que é um preço alto demais a se pagar por um chute torto.
elano santos treino (Foto: Adilson Barros / Globoesporte.com)Elano promete que vai seguir lutando para voltar à Seleção (Foto: Adilson Barros / Globoesporte.com)
Em entrevista concedida ao Globoesporte.com, na última sexta-feira, Elano falou francamente sobre o assunto. Disse que ainda está muito triste pela eliminação precoce na Copa América, mas não pelas críticas que recebeu. Assegura que não liga para elas. Prometeu seguir batalhando no Santos para voltar a ser lembrado por Mano Menezes, pois sonha disputar a Copa do Mundo de 2014, em casa. Lembrou ainda da infeliz cavadinha que arriscou contra o Flamengo, em seu primeiro jogo após a decepção com a Seleção, e prometeu que jamais tentará esse tipo de batida novamente.
Por fim, o meia falou sobre a fase atual do Santos, a disputa do Mundial de Clubes, no fim do ano, e a chance de encerrar, com a conquista da terceira estrela santista, um ciclo histórico que começou em 2002, com ele, Léo, Robinho, Diego. Confira os principais lances da conversa com o camisa 8 do Peixe.
Globoesporte.com: Após a eliminação do Brasil na Copa América, você não foi mais convocado para a Seleção Brasileira. Ficou sentido por isso?
Elano: Fiquei. Sempre batalhei pela Seleção Brasileira, tenho ótimas passagens, com títulos. Foram mais momentos felizes do que tristes. Por isso, fiquei chateado, sim. Basicamente, não tive chance de jogar. Então, não é que eu tenha ficado fora porque joguei mal...
No Brasil, nós acabamos marcados pela desgraça"
Elano
Você acha, então, que foi excluído por causa do pênalti perdido? Dos jogadores que perderam penalidades naquele dia, só você não foi mais chamado (André Santos e Fred foram convocados para o amistoso contra a Alemanha, Thiago Silva também está na equipe que jogará contra o Gabão).
Dizem que não foi pelo pênalti. Só que eu quase não joguei a Copa América. Estava na reserva. Entrei no jogo e bati. Então, só me resta pensar que foi isso. Na verdade, não sei o que pode estar acontecendo. Respeito muito os companheiros que foram convocados e também a comissão técnica. Ele (Mano Menezes) pode estar querendo dar oportunidades a outros jogadores. Para mim é chato falar sobre isso tudo. Pode parecer que estou sendo injusto. Mas vocês estão me perguntando e eu estou falando.
A imagem daquele pênalti perdido ainda está em sua cabeça? Você fica pensando nisso?
Penso, claro. O que vou dizer? Se eu falo que errei porque escorreguei, vão me colocar nos programas humorísticos caindo no chão, como já fizeram, aliás. No Brasil, somos marcados pela desgraça. As pessoas lembram do Zico e falam mais sobre o pênalti que ele perdeu (contra a França, quartas de final da Copa de 1986, no México) do que sobre sua história, o que ele fez de bom para o futebol brasileiro. Então, tenho apenas de trabalhar, ser feliz e continuar com a minha vida. Eu não me preocupo com o que falam. Nenhum dos jogadores que perderam pênalti naquele dia queria aquilo. Foi uma circunstância do gramado, que estava muito ruim. Ficam dando palpite: “Por que não fizeram isso, por que não fizeram aquilo. Por que não bateram como eles (paraguaios)?”. Eles são eles, nós somos nós. Enfim, eu assumo a minha responsabilidade como parte de um grupo que não ganhou. Mas não posso assumir tudo sozinho.
Na Copa de 2010, você se machucou ainda na primeira fase, contra a Costa do Marfim, e há quem diga que sua ausência prejudicou a equipe, que acabou sendo eliminada. Agora, você fica marcado por um outro lado...
(Interrompendo) marcado por não ter jogado. Eu não joguei a Copa América. Não estou reclamando, mas colocando aqui o que aconteceu. Não estou sendo criticado porque joguei mal. Estou sendo criticado por um momento... Veja bem: eu poderia muito bem ter falado para o treinador que não iria bater o pênalti. Só que eu fui o primeiro a me colocar à disposição. Disse: “Professor, quero bater o primeiro. Pode me colocar”. Não fujo das minhas responsabilidades. Sempre fui batedor por onde passei. E vou voltar a cobrar pênaltis de novo. A não ser que o Muricy Ramalho (técnico do Santos) determine o contrário. Nem se eu quisesse, cobraria um pênalti daquele jeito. Eu escorreguei. Todos viram que o gramado estava impraticável. Só quem me conhece sabe o que estou sofrendo. Não pelas críticas. Não ligo para isso. Mas pelo erro e por não ter ajudado a Seleção. Enfim, a vida não é só feita de glórias, né?
E aí, em sua volta ao Santos, houve o pênalti contra o Flamengo (tentou uma cavadinha e acabou recuando a bola para o goleiro Felipe).
Por esse pênalti, aceito todas as críticas. Fui irresponsável, reconheço isso e prometo a vocês: posso até voltar a cobrar uma penalidade no meio do gol, mas desse jeito, não.
elano santos treino (Foto: Adilson Barros / Globoesporte.com)Elano garante que ambiente no Peixe é bom
(Foto: Adilson Barros / Globoesporte.com)
De qualquer forma, mesmo aos 30 anos, você segue sonhando com Seleção?
Claro. Não vou desistir nunca. Só vou parar de sonhar com Seleção quando eu achar que não tenho mais condições. Tenho 68 convocações. Conquistei Copa América, Copa das Confederações. Fui destaque da Seleção Brasileira numa Copa do Mundo. Muitos dizem que o Brasil poderia ter vencido a Copa se eu não tivesse me machucado. Eu não sei se seria assim, mas é o que dizem. No Santos (juntando duas passagens, de 2000 a 2005 e desde 2010), tenho dois Brasileiros, dois Paulistas e uma Taça Libertadores, essa bem recente. Agora já não sirvo mais? Não acredito nisso.
Vamos falar sobre o Santos. O time está em uma fase ruim. Na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Ao mesmo tempo, se prepara para o Mundial de Clubes. Uma má campanha no Brasileiro não pode refletir negativamente no desempenho da equipe no Mundial?
Para conseguirmos disputar um bom Mundial, temos de estar bem confiantes. Por isso, nosso maior objetivo agora tem de ser a recuperação no Brasileiro. O Mundial fica um pouco em segundo plano nesse momento. Claro que estamos muito chateados, tristes mesmo, por essa situação ruim que o time vive. Afinal, conquistamos tudo de janeiro até o dia 22 de junho, quando vencemos a Libertadores. Mas só com muito trabalho é que vamos reverter isso.
Você consegue detectar uma causa para tamanha queda de rendimento?
É impossível um time manter aquela nossa pegada de Paulista e Libertadores durante um ano inteiro. Não tem como. Houve um desgaste físico e mental muito grande. Tivemos uma sequência de 10 a 15 jogos decisivos. Quando conseguimos conquistar os dois títulos, houve, sim, um relaxamento físico e mental. É natural. Mas já estamos retomando. O Muricy está conversando com o grupo, dando duras também, claro.
O problema é só desgaste mesmo? Há boatos de que o elenco rachou, de que o ambiente ficou ruim depois das conquistas...
Pois é. Falam de racha, de bicho pela conquista da Taça Libertadores que não foi pago. É tudo mentira. O ambiente é o mesmo, é ótimo. As brincadeiras continuam do mesmo jeito. Claro que o pessoal está um pouco mais apreensivo por causa dos resultados ruins. Todos reconhecem que precisamos sair dessa situação. Mas, de resto, tudo igual. Esses boatos não têm nada a ver.
E quando o Santos começa a engrenar de novo?
Tem de ser neste domingo, contra o Bahia. É preciso somar pontos o mais rápido possível. Temos 21 rodadas para sair dessa situação. Não podemos deixar para o final.
Prometo nunca mais bater pênalti com cavadinha. Fui irresponsável"
Elano
Apesar de você dizer que o time está mais concentrado em se recuperar no Brasileiro, não há como fugir da lembrança de que, no fim do ano, pode ter um Barcelona no meio do caminho. Como vai ser?
Realmente, pela nossa situação, é difícil falar sobre isso no momento. Agora, claro que sabemos que haverá o Mundial. O Barcelona é o melhor time do mundo, joga por música. Há alguma maneira de pará-los? Realmente eu não sei. Até porque, antes de enfrentar o Barcelona, tem a semifinal do Mundial. Vamos pegar um adversário difícil. De qualquer forma, teremos de trabalhar muito, nos concentrarmos. Se chegarmos à final com o Barcelona, vamos ter de acertar uma partida perfeita.
Esse ciclo vitorioso do Santos, que pode ter como ponto máximo a conquista do Mundial de Clubes neste ano, começou em 2002, quando você, Léo, Robinho, Diego, entre outros, tiraram o clube de uma fila de 18 anos sem conquistas importantes. Você já parou para pensar nisso?
Olha, isso significaria demais para mim. Principalmente aqui no Brasil. Ter um vínculo tão forte com o clube que foi de Pelé, Pepe, Zito, Clodoaldo é algo que me deixa muito feliz. Fazer parte de todo esse ciclo é um sonho, realmente.

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